Ela já não é tão Nova assim. Na verdade, ela já é bem velha.
E já está caducando, porque repete sempre as mesmas coisas. Estamos falando da
revista Nova, essa pérola voltada para o universo feminino, cujo maior objetivo
é deixar o bofe alucinado por você, usando as técnicas mais variadas, desde o
esmalte cor Ardência no Pelourinho, passando pela dicas infalíveis de como ser
uma mulher atraente/fatal/sensual/deusa/poderosa/arrasadora, até as mais
pitorescas dicas de sexo, que, até onde me lembro, são as mesmas desde que li a
revista a primeira vez, em 19... deixa pra lá.
#1 As dicas de sexo
Estas são as melhores.
O guia lacrado do sexo de Nova. As listas de “557
coisas para fazer com o dedão do pé e enlouquecer o seu amado”. A criatividade
não tem limites. Tudo pode ser útil. Chegou do mercado com as compras? Opa,
veste só avental, sobe no salto pata de bode e põe a imaginação pra funcionar.
Massageie as costas do gato com o brócoli e a maionese. Ponha os grampos de
roupa nos mamilos dele. Segundo a mulher de Nova, ele vai amar. Unte o
“menino” com a margarina light e depois passe na farinha de trigo. Na Nova, eles
não chamam o pênis de “pênis”, mas dão apelidos carinhosos ou usam metáforas,
como “menino”, “tamanduá bandeira”, etc. Olhando sensualmente para ele, tire da
sacola o ralador de legumes e diga para ele adivinhar o que vai fazer com
aquilo...
Isso sem falar que a cada semana os cientistas descobrem uma
nova zona erógena. A última aponta para o rim direito, ou ponto RD. Dizem que
não há prazer maior. Se você conseguir alcançá-lo, claro. Mas aí entra uma
reportagem sobre um nova modalidade de Yoga sexual e seus problemas acabaram!
#2 As matérias sobre celulite
Desde que me conheço por gente, essa batalhadora revista
promete o fim da celulite. Acho que a primeira matéria deve ter sido “sente-se
na máquina de lavar e acabe com a celulite!”, no tempo em que as máquinas de
lavar saíam andando pela lavandeira. Aí veio a época dos cremes milagrosos.
Claro que se você se enrolasse num papel celofane ou alumínio a coisa
funcionava ainda mais. Se ainda não tiver jogado a velha máquina de lavar fora
então, é batata! Isso sem falar na água. Não basta beber água, você tem que
beber água feito um camelo sedento no deserto do Saara.
Mas nos anos 2000, vimos nascer as novas máquinas de
tortura, ops, anticelulite/gordura localizada, que fazem verdadeiros milagres,
como esvaziar o seu bolso. O ultra shape, que emite sinais de ultrassom, rádio
e TV à Cabo e faz as células gordurosas confessarem tudo antes de explodir. A
sensacional Carboxiterapia, que injeta gás carbônico (certifique-se que não é
Hélio ou você vai parar no teto da clínica) por debaixo da sua pele, rasgando
os tecidos. O que se vê é algo semelhante aqueles filmes de terror onde os
vermes caminham debaixo da pele. Eu sei porque eu já fiz, rá! A tradicional
massagem, onde a delicada esteticista te trata como se fosse uma massa de pão e
no fim você está tão roxa que não vai poder ir à praia mesmo, então é melhor
ficar com a celulite. Agora, se você fechar a boca e caminhar...
#3 O certo e o errado
Que, aliás, elas não chamam mais de certo e errado. Agora o
errado é “Over”. Antigamente, eram fotos de mulheres comuns usando a roupa
errada, tipo a meia por cima da calça, com um “X” vermelho em cima. Agora elas
estão mais ousadas e comparam as celebridades, e não só no quesito vestuário,
mas também no comportamento. A Sandy com um batonzinho cor de burro quando foge
é SEXY, mas a Rihanna com duas rodelas pretas em volta do olho (de maquiagem!),
parecendo um urso panda, é OVER.
Beber um champagne no umbigo do bofe é SEXY, mas jogar sal,
limão, lamber tudo e mandar um velho barreiro pra dentro é OVER. Aliás,
gostaria de entender a sutil diferença entre um e outro. Tipo, um tamanco
holandês de uma hora pra outro pode ser SEXY. Mas se você usar com uma saia
balonê é OVER. Essas coisas são difíceis...
#4 As dietas infalíveis
Na capa da revista tem sempre uma chamada assim: DERRETA 5
KILOS DE GORDURA EM DOIS DIAS! NÓS TESTAMOS. BARRIGA CHAPADA EM 30 DIAS! [grifo meu].
Na minha cabeça passa a imagem de
um belo pedação de costela com gordura derretendo, diliça! Enfim.
Você, desesperada pra entrar no biquini e faltando uma
semana pras férias, compra a revista. Aí você lê aquela dieta básica, com todas
aquelas coisas que você odeia comer – queijo branco, abobrinha, arroz integral,
gelatina diet, chuchu, e já pensa nos déizão que perdeu comprando aquela merda.
Ai que ódio! O pior é quando dizem pra você comer um grapefruit. Foi o
grapefruit que me fez desistir de várias dietas. E no final você aprende que o
que adianta mesmo é fechar a boca e caminhar.
#5 A redação
Sempre imaginei que a redação de Nova fosse
composta por mulheres entre 25 a 30 anos. Todas super produzidas, de salto
rosa, magérrimas e com os cabelos na cor da estação. Aí, quando passam dos 30,
devem ser enviadas para um moedor de carne gigante, e substituídas por novas
redatoras, e assim sucessivamente. Sim, porque desde que conheço a revista,
parece que a mulher da Nova tem essa faixa de idade e os mesmos
velhos dilemas (“ser ou não ser” é que não é).
Carboxiterapia, que injeta gás carbônico (certifique-se que
não é Hélio ou você vai parar no teto da clínica) por debaixo da sua pele,
rasgando os tecidos. O que se vê é algo semelhante aqueles filmes de terror
onde os vermes caminham debaixo da pele. Eu sei porque eu já fiz, rá! A
tradicional massagem, onde a delicada esteticista te trata como se fosse uma
massa de pão e no fim você está tão roxa que não vai poder ir à praia mesmo,
então é melhor ficar com a celulite. Agora, se você fechar a boca e caminhar...
#6 A capa
Toda capa da revista traz uma mulher vestida para ir não sei
onde numa pose tipo, ninguém pára assim! [grifo meu]
Algumas produções mereciam ir pra Bienal de São Paulo,
expostas ao lado de um monte de cadeiras empilhadas, representado a “decadência
da sociedade enquanto paradigma do ego”. Tem roupa feita de anel de lata de
refrigerante, papel carbono, papel de seda, plástico bolha, penas de urubu rei,
capa de botijão de gás, ímãs de geladeira... Haja criatividade!
Por Silvana Sch